Friday, March 28, 2025

TRabalhadores das plataformas

 

Limites do trabalho

No dia 17 de Março, o Departamento de Censos e Estatísticas de Hong Kong divulgou dados que mostram que aproximadamente 12.900 pessoas trabalharam em plataformas digitais de entrega de alimentos e outros bens durante o último ano.

52,5 por cento destes trabalhadores têm entre 15 e 39 anos, mais de metade tem menos de 40 e 24,2 por cento mais de 50 anos. 64.7 por cento dos inquiridos afirmaram que este trabalho é a sua principal fonte de rendimentos, 61 por cento recebe menos de 5.000 dólares de Hong Kong (HKD) por mês e 37.1 por cento ganha mais de 15.000 HKD mensais.

53.9 por cento trabalham menos de 44 horas por semana, 24.9 por cento mais de 44 horas semanais e 21.2 por cento destes trabalhadores declaram não ter horário fixo. 68.6 por cento trabalham apenas para uma plataforma de entregas a cada dia.

91.3 por cento dos inquiridos dizem ter começado a trabalhar neste ramo por ser de fácil ingresso, ter um método de trabalho flexível e por terem um grande controlo sobre os métodos e procedimentos. 98.2 por cento afirmam ter mais campo de manobra para equilibrar o trabalho com a vida pessoal. 45 por cento sentem-se atraídos por este trabalho devido ao salário.

Outros dados emitidos anteriormente pelo Governo de Hong Kong mostram que o salário médio destes trabalhadores foi de 22.000 USD entre Outubro e Dezembro de 2024. Em comparação, apenas 37,1 por cento ganham mais de 15.000 USD, o que mostra que recebem geralmente salários inferiores à média.

Os empregados de escritório em Hong Kong trabalham geralmente das 9h às 18h durante a semana e mais quatro horas aos sábados, o que significa um total de 49 horas de trabalho semanal. Excluindo a pausa de uma hora para almoço de segunda a sexta-feira, faz exactamente 44 horas. Como 53,9 por cento dos distribuidores trabalham menos de 44 horas semanais, é razoável que seus salários sejam inferiores à média do mercado.

98,2 por cento das pessoas que fazem entregas afirmam fazer este serviço por lhes dar mais espaço para equilibrar o trabalho com a vida familiar. Isso demonstra que a nova geração presta mais atenção ao equilíbrio entre o trabalho e vida pessoal, um fenómeno diferente do “tele-trabalho” que surgiu durante a epidemia. O “tele-trabalho” significa trabalhar a partir de casa pelo que é difícil avaliar o limite entre o trabalho e a vida familiar. Como as pessoas que trabalham em plataformas de entrega podem controlar o seu horário de trabalho, o problema de definir a fronteira entre o trabalho e o lazer é muito reduzido.

Os três principais limites que definem o exercício das funções laborais são psicológicos, temporais e físicos. Os limites psicológicos são regras criadas por indivíduos que determinam pensamentos, comportamentos e emoções específicas, o que significa que se deve ter uma atitude racional quando se trabalha e uma atitude emocional quando se está em família. Limites de tempo significam definir horários de trabalho, desligar das funções fora desse horário e, dedicar esse tempo extra laboral à casa e à família. O limite físico é definido pelo local de trabalho. Quando se vai para o escritório vai-se trabalhar, quando se sai o trabalho terminou. Os dados estatísticos das plataformas de entrega mostram que as pessoas escolhem colaborar com eles principalmente por terem mais espaço para controlar o seu horário e modelo de trabalho. Este fenómeno indica que a nova geração valoriza a existência de limites ao tempo laboral e, em termos de limites psicológicos, procura ter mais controlo sobre o seu trabalho.

Na era pós-epidemia, é dada maior importância ao equilíbrio entre carreira profissional e família. A teoria dos limites ajuda as empresas a compreender e gerir melhor as fronteiras entre trabalho e família, alcançando assim um melhor equilíbrio e permitindo que a qualidade de vida dos trabalhadores melhore.

Em Hong Kong, os distribuidores das plataformas de entrega ganham menos. Embora tenha uma noção melhor dos limites do trabalho e uma vida familiar mais feliz, os bens materiais que podem dar à família são limitados. Estes trabalhadores precisam que alcançar o equilíbrio entre a vida familiar e os bens materiais. Do ponto de vista empresarial, dar mais espaço e flexibilidade aos trabalhadores, bem como fronteiras mais amplas, irá ajudar a recrutar uma nova geração de funcionários.

https://hojemacau.com.mo/2025/03/25/limites-do-trabalho/

Tuesday, February 18, 2025

Imobiliário

 fev25

Setor imobiliário em crise pede nova estratégia do Governo

O mercado imobiliário de Macau atravessa a sua pior fase em 40 anos, afirma o presidente da Associação dos Empresários do Setor Imobiliário de Macau, Ung Choi Kun. Ao nosso jornal, o empresário pede que o Governo ajuda através de mais venda de terrenos e na construção de novas habitações

  Viviana Chan e Nelson Moura
 

Desde a pandemia que o setor imobiliário mostra dificuldades em estabilizar, com o preço do metro quadrado para a habitação a cair 17 por cento desde o último trimestre de 2019, de acordo com a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Porém, se juntarmos à equação o preço das instalações comerciais e industriais, a queda sobe para 26,7 por cento.

O empresário e ex-deputado, Ung Choi Kun, alerta que o volume de transações de propriedades na RAEM encontra-se no nível mais baixo das últimas quatro décadas e, portanto, está na altura de o Governo adotar medidas que “impulsionem a renovação urbana e restaurem a confiança dos investidores”.

Segundo Ung, a atual crise começou devido a múltiplos fatores, incluindo o desequilíbrio entre oferta e procura, o fraco desempenho da economia, e a falta de confiança dos compradores. “A oferta superou em muito a procura. Foi um erro grave cometido pelo Governo anterior, com políticas que resultaram na queda dos preços”, explica.

O Governo precisa de tomar a iniciativa na venda de terrenos e na construção de novas habitações, permitindo que os residentes de áreas mais antigas se mudem para novos empreendimentos
Ung Choi Kun, presidente da Associação dos Empresários do Setor Imobiliário de Macau

Entretanto, a desaceleração da economia global, a subida das taxas de juro e as mudanças nas cadeias de fornecimento de tecnologia e materiais de construção agravaram a falta de confiança entre os investidores. Segundo dados apresentados por Ung, o volume de transações no mercado imobiliário de Macau registou uma queda drástica, representando atualmente apenas 20 por cento do que foi observado no pico do setor, há dez anos.

O baixo volume de negócios leva o empresário a estimar uma desvalorização real de cerca de 50 por cento nas últimas quatro décadas. “Os edifícios antigos, com 40 ou 50 anos, perderam valor e continuam a gerar ativos negativos. O mesmo acontece com os edifícios industriais e de escritórios, que já não conseguem atender às necessidades das indústrias modernas.”

Dados publicados pela Direcção de Serviços e Finanças (DSF) e consultados pelo PLATAFORMA demonstram uma queda acentuada nos últimos 15 anos em transações de habitações residenciais. Em 2010, foram registadas cerca de 15.777 transações, um número que caiu para apenas 3.057 em 2024 – uma redução de 80,7 por cento.

Quanto à venda de edifícios comerciais ou de escritórios, a DSF não providencia informações específicas, no entanto, a imobiliária JLL tem oferecido atualizações regulares. Na mais recente, a empresa indicou que o volume de vendas de escritórios caiu para números “observados pela última vez há uma década”, devido à combinação de uma taxa de desocupação crescente e de taxas de juro elevadas. No mesmo período, o mercado imobiliário comercial assistiu a um aumento na “libertação de ativos desvalorizados para venda”, incluindo muitas propriedades de retalho em “distritos turísticos e bairros comunitários”.

Mão amiga do Governo

Para reverter esta situação, Ung defende que o Governo deve liderar o processo de renovação urbana e impulsionar projetos de desenvolvimento integrado. “O Governo precisa de tomar a iniciativa na venda de terrenos e na construção de novas habitações, permitindo que os residentes de áreas mais antigas se mudem para novos empreendimentos. Isso não só estimularia a renovação urbana, como também fortaleceria o mercado financeiro”.

O empresário propõe também que o Governo acelere a implementação da estratégia ‘1+4’, que prevê o desenvolvimento de polos integrados nos setores MICE, comércio, desporto e produção audiovisual, que diz poder ajudar Macau a reforçar a sua competitividade internacional e a diversificar a economia.

Relativamente à evolução dos preços dos imóveis, Ung acredita que a recuperação do mercado dependerá da capacidade do Governo em restaurar a confiança dos cidadãos e dos investidores. “Se o Governo apresentar diretrizes claras sobre a política imobiliária nas próximas Linhas de Acção Governativa e adotar medidas concretas em áreas como a residência por investimento e a atração de talentos, o mercado pode começar a recuperar a partir do seu ponto mais baixo”.

De qualquer maneira, o empresário diz que não há necessidade de “pessimismo excessivo”, dado que o mercado imobiliário de Macau ainda possui vantagens únicas face ao da China Continental.

Macau tem uma população reduzida e se conseguirmos facilitar a mobilidade dos estudantes universitários, o preço dos imóveis pode subir.” No entanto, avisa que a única forma de garantir um setor imobiliário sustentável a longo prazo será mediante um plano abrangente de renovação urbana, que melhore a qualidade dos imóveis e contribua para o objetivo de tornar a cidade num centro mundial de turismo e lazer.

Rendas no sentido inverso

Não obstante, o cenário negro no mercado de compra e venda não se observa no mercado de arrendamento, em crescimento no último ano. Apesar do preço por metro quadrado ainda estar longe das 163 patacas que se pagava em 2019 – a descida atual é de 19 por cento –, entre finais de 2023 e o terceiro trimestre de 2024 o preço subiu 3,79 por cento.

Os preços podem voltar a descer, afirma Ung, justificando essa tese com a possibilidade de o desenvolvimento de Hengqin incentivar mais residentes a mudarem-se para a Zona de Cooperação Aprofundada. Porém, avisa que a recuperação económica e restauração da confiança no mercado podem levar ao aumento das rendas. Mais uma vez, olha para a mobilidade dos estudantes universitários como um fator que pode levar ao aumento dos preços.

https://www.plataformamedia.com/2025/02/14/setor-imobiliario-em-crise-pede-nova-estrategia-do-governo/