fev25
Setor imobiliário em crise pede nova estratégia do Governo
O mercado imobiliário de Macau atravessa a sua pior fase em 40 anos, afirma o presidente da Associação dos Empresários do Setor Imobiliário de Macau, Ung Choi Kun. Ao nosso jornal, o empresário pede que o Governo ajuda através de mais venda de terrenos e na construção de novas habitações
Desde a pandemia que o setor imobiliário mostra dificuldades em estabilizar, com o preço do metro quadrado para a habitação a cair 17 por cento desde o último trimestre de 2019, de acordo com a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Porém, se juntarmos à equação o preço das instalações comerciais e industriais, a queda sobe para 26,7 por cento.
O empresário e ex-deputado, Ung Choi Kun, alerta que o volume de transações de propriedades na RAEM encontra-se no nível mais baixo das últimas quatro décadas e, portanto, está na altura de o Governo adotar medidas que “impulsionem a renovação urbana e restaurem a confiança dos investidores”.
Segundo Ung, a atual crise começou devido a múltiplos fatores, incluindo o desequilíbrio entre oferta e procura, o fraco desempenho da economia, e a falta de confiança dos compradores. “A oferta superou em muito a procura. Foi um erro grave cometido pelo Governo anterior, com políticas que resultaram na queda dos preços”, explica.
O Governo precisa de tomar a iniciativa na venda de terrenos e na construção de novas habitações, permitindo que os residentes de áreas mais antigas se mudem para novos empreendimentos
Ung Choi Kun, presidente da Associação dos Empresários do Setor Imobiliário de Macau
Entretanto, a desaceleração da economia global, a subida das taxas de juro e as mudanças nas cadeias de fornecimento de tecnologia e materiais de construção agravaram a falta de confiança entre os investidores. Segundo dados apresentados por Ung, o volume de transações no mercado imobiliário de Macau registou uma queda drástica, representando atualmente apenas 20 por cento do que foi observado no pico do setor, há dez anos.
O baixo volume de negócios leva o empresário a estimar uma desvalorização real de cerca de 50 por cento nas últimas quatro décadas. “Os edifícios antigos, com 40 ou 50 anos, perderam valor e continuam a gerar ativos negativos. O mesmo acontece com os edifícios industriais e de escritórios, que já não conseguem atender às necessidades das indústrias modernas.”
Dados publicados pela Direcção de Serviços e Finanças (DSF) e consultados pelo PLATAFORMA demonstram uma queda acentuada nos últimos 15 anos em transações de habitações residenciais. Em 2010, foram registadas cerca de 15.777 transações, um número que caiu para apenas 3.057 em 2024 – uma redução de 80,7 por cento.
Quanto à venda de edifícios comerciais ou de escritórios, a DSF não providencia informações específicas, no entanto, a imobiliária JLL tem oferecido atualizações regulares. Na mais recente, a empresa indicou que o volume de vendas de escritórios caiu para números “observados pela última vez há uma década”, devido à combinação de uma taxa de desocupação crescente e de taxas de juro elevadas. No mesmo período, o mercado imobiliário comercial assistiu a um aumento na “libertação de ativos desvalorizados para venda”, incluindo muitas propriedades de retalho em “distritos turísticos e bairros comunitários”.
Mão amiga do Governo
Para reverter esta situação, Ung defende que o Governo deve liderar o processo de renovação urbana e impulsionar projetos de desenvolvimento integrado. “O Governo precisa de tomar a iniciativa na venda de terrenos e na construção de novas habitações, permitindo que os residentes de áreas mais antigas se mudem para novos empreendimentos. Isso não só estimularia a renovação urbana, como também fortaleceria o mercado financeiro”.
O empresário propõe também que o Governo acelere a implementação da estratégia ‘1+4’, que prevê o desenvolvimento de polos integrados nos setores MICE, comércio, desporto e produção audiovisual, que diz poder ajudar Macau a reforçar a sua competitividade internacional e a diversificar a economia.
Relativamente à evolução dos preços dos imóveis, Ung acredita que a recuperação do mercado dependerá da capacidade do Governo em restaurar a confiança dos cidadãos e dos investidores. “Se o Governo apresentar diretrizes claras sobre a política imobiliária nas próximas Linhas de Acção Governativa e adotar medidas concretas em áreas como a residência por investimento e a atração de talentos, o mercado pode começar a recuperar a partir do seu ponto mais baixo”.
De qualquer maneira, o empresário diz que não há necessidade de “pessimismo excessivo”, dado que o mercado imobiliário de Macau ainda possui vantagens únicas face ao da China Continental.
“Macau tem uma população reduzida e se conseguirmos facilitar a mobilidade dos estudantes universitários, o preço dos imóveis pode subir.” No entanto, avisa que a única forma de garantir um setor imobiliário sustentável a longo prazo será mediante um plano abrangente de renovação urbana, que melhore a qualidade dos imóveis e contribua para o objetivo de tornar a cidade num centro mundial de turismo e lazer.
Rendas no sentido inverso
Não obstante, o cenário negro no mercado de compra e venda não se observa no mercado de arrendamento, em crescimento no último ano. Apesar do preço por metro quadrado ainda estar longe das 163 patacas que se pagava em 2019 – a descida atual é de 19 por cento –, entre finais de 2023 e o terceiro trimestre de 2024 o preço subiu 3,79 por cento.
Os preços podem voltar a descer, afirma Ung, justificando essa tese com a possibilidade de o desenvolvimento de Hengqin incentivar mais residentes a mudarem-se para a Zona de Cooperação Aprofundada. Porém, avisa que a recuperação económica e restauração da confiança no mercado podem levar ao aumento das rendas. Mais uma vez, olha para a mobilidade dos estudantes universitários como um fator que pode levar ao aumento dos preços.
https://www.plataformamedia.com/2025/02/14/setor-imobiliario-em-crise-pede-nova-estrategia-do-governo/
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